Uvas da terra dos deuses
As melhores cepas gregas têm nomes e gostos diferentes de tudo que se conhece
Marcos Pivetta/www.jornaldovinho.com.br*
25/03/2007
Os críticos internacionais garantem que os principais produtores gregos são capazes de fazer vinhos de alto classe com cepas de origem francesa sejam elas tintas (Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah) ou brancas (Chardonnay, Viognier, Sauvignon Blanc). Mas o grande diferencial da vitivinicultura na Grécia são suas uvas autóctones, algumas cultivadas desde a Antiguidade. Estima-se que o número de variedade locais chegue a 300, talvez até 500. São nomes pouco conhecidos fora da Grécia, como as brancas Assyrtiko, Moschofilero, Roditis e Malagousia, e as tintas Agiorghitiko, Xinomavro, Mandelaria e Mavrodaphne. Na passagem do grego para o alfabeto ocidental, a grafia das cepas pode apresentar variações um pouco maiores do que a dualidade Syrah/Shiraz. Dependendo da fonte consultada, a tinta Agiorghitiko, por exemplo, pode ser escrita Aghiorghitiko ou Agiorgitiko, entre outras variações. É bom o consumidor ir se acostumando com essas particularidades. Abaixo uma breve perfil das principais uvas gregas:
Assyrtiko
Apontada como a grande uva grega branca, talvez a melhor de todas as cepas autóctones, alguns especialistas costumam compará-la à francesa Chenin Blanc, do Vale do Loire As melhores versões dos vinhos secos feitos com essa variedade, bastante resistente a doenças e de boa adaptação a diversos climas, podem lembrar os longevos vinhos da denominação francesa de Savennières, no Loire. Originária ou introduzida há cerca de 400 anos na vulcânica ilha de Santorini, no mar Egeu, sul da Grécia, a Assyrtiko espalhou-se por outras partes do país, sobretudo o norte. Uma de suas principais características é ser capaz de amadurecer mesmo em climas quentes sem perder a acidez. Dá vinhos perfumados, austeros, com toques cítricos, minerais e esfumaçados. Pode passar ou não pelo carvalho durante seu processo de elaboração. No entanto, não é fácil de ser vinificada e, nas mãos de um produtor pouco habilidoso, pode oxidar. Alguns produtores misturam-na com outra cepa grega branca, a Malagousia, que foi salva da extinção graças ao trabalho de resgate feito por Evanghelos Gerovassiliou, da vinícola Gerovassiliou. A Assystiko pode ser usada também para fazer um vinho doce, um vinsanto grego, no qual as uvas são desidratadas ao Sol e geralmente misturadas com um pouco das brancas Aidani e Athiri.
Moschofilero
Originária da parte central do Peloponeso, sul da Grécia, de uma zona fresca, situada cerca de 650 metros acima do nível do mar, é uma cepa branca aromática de boa acidez que pode produzir vinhos do mais diversos estilos: leves, secos e frutados; rosés secos ou meio-secos com perfume de rosas; ou até espumantes. Na verdade, não se trata realmente de uma uva branca, mas sim de uma blanc de gris, ou seja, uma variedade que tem a casca entre o rosa e o cinza. A denominação de origem Mantinia, no Peloponeso, é tida como uma das principais fontes de bons rótulos dessa uva. Seu vinhos não costumam ter teor alcoólico dos mais altos, raramente chegam a 12° GL. Como a italiana Vespaiolo, o nome Moschofilero deriva da presença de muitos insetos em torno da uva quando esta se encontra madura.
Agiorghitiko
Disputa com a Xinomavro o título de melhor tinta local. Os anglófilos podem também a chamam de St George. Tem taninos macios, boa fruta e dá vinhos de cor escura dos mais variados estilos: desde os leves e descompromissados (inclusive rosés) até os mais estruturados e capazes de encarar um carvalho e envelhecer por anos. Por suas características, sobretudo a elegância, costuma ser comparada à Merlot. Os tintos da região de Neméia, no Peloponeso, uma das maiores denominações gregas, são feitos com a Agiorghitiko.
Xinomavro
Encontrada na parte central da Macedonia, norte da Grécia, sobretudo nas localidades de Naoussa, Goumenissa and Amyndeo, é uma cepa de difícil cultivo, caprichosa, que dá bons vinhos apenas em certas regiões e em anos quando seu amadurecimento se dá por completo na videira. Seu nome quer dizer “preto ácido’, uma referência à bebida austera de cor escura, grande acidez e taninos por vezes adstringentes que a variedade produz. Os melhores vinhos dessa uva podem envelhecer por anos, segundos os especialistas. Há quem compare a Xinomavro à italiana Nebbiolo, a uva do Barolo, ou à portuguesa Baga, da região da Bairrada. A cepa é usada mais para a produção de varietais, embora às vezes surja também em blends com outras uvas.
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*Esta matéria foi originalmente publicada na edição de março de 2007 do jornal Bon Vivant
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