As quedas do champanhe em 2009
Vendas em volume caíram 9,1% e o faturamento diminuiu 17%; ainda assim, 2009 foi o oitavo melhor ano da história do champanhe no quesito número de garrafas comercializadas
Marcos Pivetta/www.jornaldovinho.com.br
22/02/2010
A julgar pelo discurso apocalíptico de alguns produtores de champanhe, o ano de 2009 tinha tudo para ser péssimo para seu borbulhante negócio. O Natal se aproximava e o rescaldo da crise econômica global, sobretudo na Europa e nos Estados Unidos, estava empurrando o consumidor do mais renomado e valorizado espumante do mundo na direção de produtos similares (muitas vezes não tão similares assim) mais em conta. Para piorar ainda mais a situação, diziam os produtores, a venerável reputação do champanhe estava sendo arranhada por uma guerra de preços promovida no final do ano passado por supermercados e lojas da França e na Inglaterra, respectivamente os dois principais mercados consumidores de champanhe (veja reportagem). Grandes marcas de champanhe, como a Bollinger, foram vendidas a metade do preço na Inglaterra e os supermercados franceses travaram uma luta para ver quem conseguia desovar mais champanhe barato a 10 euros. Nesse contexto, para alegria dos seus concorrentes espanhóis e italianos de espumantes, cujos espumantes têm preços mais modestos, as vendas globais de champanhe iriam certamente cair. Mas quanto? 5%, 10%, 15%? Quem saberia dizer com certeza?
Agora, fechados os números de 2009, o Comité Interprofessionnel du vin de Champagne (CIVC) pode finalmente responder a essa questão: foram comercializadas em todo o mundo 293, 3 milhões de garrafas de champanhe no ano passado, 9,1 % a menos do que em 2008. A queda das vendas foi mais sentida nos grandes do que nos pequenos produtores. As grandes casas produtoras de champanhe, que respondem por 66% de toda a produção da região, venderam 193,5 milhões de garrafas, 9,7% a a menos que em 2008. Já os pequenos produtores e as cooperativas comercializaram 99,8 millões de garrafas, 7,9% a mais do que em 2008. No que diz respeito ao faturamento global do setor, o ano passado não foi dos melhores: diminução de 17% no valor anual das vendas, que caíram para 3,7 bilhões de euros.
Então 2009 foi um desastre? Nada disso. Foi um alívio para o setor. A imagem usada pelos dirigentes da região foi a de que o farol, que estava no vermelho, passou para o amarelo. Olhando as estatísticas oficiais, pode-se concluir que 2009 foi o oitavo melhor ano de sua história para a região de Champagne em termos de volume de vendas de seu espumante. Não dá nem para cogitar, portanto, de que se tratou de um ano desastroso. Mas, claro, está cada vez mais difícil manter as vendas anuais na casa das 300 milhões de garrafas, patamar elevado ao qual o setor se acostumou desde o ano de 1999.
As promoções, sem dúvida, ajudaram a amenizar os efeitos da crise. Em volume, as vendas na França ficaram na casa das 181 milhões de garradas, praticamente o mesmo que em 2008. Ou seja, os gauleses compraram 61,7% de todo o champanhe comercializado no ano passado, um porcentual bastante elevado (o mercado externo adquiriu 112,3 milhões de garrafas, 38,3 % do total). Excluindo-se a França, nos demais países da União Europeia, sobretudo no Reino Unido, Itália e Espanha, as compras de champanhe até aumentaram. Subiram 17,4 % em 2009, atingindo a marca de 70,6 millões de garradas. Fiasco mesmo houve nos mercados externos fora do Velho Mundo. Nesse caso, as vendas despencaram a 41,7 milhões de garrafas, uma queda de 25%.
Sempre é bom colocar em perspectiva histórica os números divulgados pelo pessoal de Champagne. Já em 1860, a região francesa vendia anualmente cerca de 11 milhões de garrafas de champanhe, coincidentemente a mesma quantidade de espumante comercializada no ano passado pelo Rio Grande do Sul, responsável por 90% da produção brasileira de vinhos. Antes da Segunda Guerra Mundial, que devastou a região e seus vinhedos, o recorde de comercialização tinha ocorrido em 1936/37: mais de 40 milhões de garrafas vendidas na França e no exterior. Passados os efeitos do conflito armado, a produção voltou a crescer década após década: em 1961, rompeu pela primeira vez a casa das 50 milhões de garrafas anuais; em 1970, passou a cifra das 100 milhões de garrafas; em 1986, entrou no patamar das 200 milhões de garrafas; em 1999, ultrapassou pela primeira vez o volume de 300 milhões de garrafas; em 2007, registrou o recorde histórico de vendas, com quase 339 milhões de garrafas comercializadas. Confira abaixo os números globais de venda de champanhe nos últimos anos, segundo dados site oficial das grandes casas produtoras (aqui segue um link para quem quiser ver toda a série histórica, com dados desde 1844).
Quantidade de garrafas de champanhe vendidas
Ano
|
Na França
|
No exterior
|
Em todo o mundo
|
1999
|
190 449 776
|
136 589 287
|
327 039 063
|
2000
|
149 626 415
|
103 583 131
|
253 209 546
|
2001
|
164 522 817
|
98 172 497
|
262 695 314
|
2002
|
175 000 710
|
112 671 711
|
287 672 421
|
2003
|
174 231 485
|
119 273 475
|
293 504 960
|
2004
|
178 358 541
|
123 056 432
|
301 414 973
|
05
|
178 360 043
|
129 304 879
|
307 664 922
|
2006
|
181 129 602
|
140 660 196
|
321 789 798
|
2007
|
187 785 100
|
150 922 092
|
338 707 192
|
2008
|
181 209 546
|
141 244 306
|
322 453 852
|
2009
|
180 954 333
|
112 360 384
|
293 314 717
|
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