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Polifenóis contra o câncer?

Altas doses de composto do vinho tinto poderiam ser usadas para “matar de fome” os tumores, sugere estudo francês

Marcos Pivetta/www.jornaldovinho.com.br

30/10/2007

Saiu mais um estudo científico apontando possíveis benefícios dos polifenóis, compostos químicos naturalmente encontrados no vinho tinto, nas frutas, nos vegetais e no chá verde. Desta vez, os pesquisadores acreditam ter descoberto uma faceta da ação dos polifenóis que poderia ser explorada para evitar o aparecimento e o desenvolvimento do câncer, entre outras doenças, segundo estudo publicado na edição de novembro do The Faseb Journal, da Federation of American Societies for Experimental Biology.

De acordo com o trabalho, que testou a ação dos polifenóis do vinho tinto in vivo em ratos que haviam sofrido um tipo de isquemia, esses compostos podem tanto inibir como estimular a formação de vasos num organismo, processo tecnicamente chamado de angiogênese. Altas doses diárias de polifenóis – da ordem de 20 miligramas por quilo do paciente, mais ou menos o que está presente numa garrafa de vinho – seriam capazes de frear a formação de vasos enquanto baixas quantidades – 0.2 miligramas por quilo, equivalente ao que se encontra em menos de uma taça da bebida ou se obtém com uma dieta rica em frutas e vegetais – fomentariam a angiogênese. Portanto, em função da dose consumida, os polifenóis podem desempenhar efeitos totalmente contrários no que diz respeito à formação de vasos e ao estímulo da capilaridade sangüínea.

Lançando mão dessa dualidade, desse paradoxo dos polifenóis, os pesquisadores franceses acreditam que o maior ou menor consumo desses compostos pode ser uma forma de exercer algum controle sobre o processo de angiogênese e, assim, auxiliar no combate a doenças. “O uso dos polifenóis das plantas como uma ferramenta terapêutica apresenta importantes vantagens”, diz Daniel Henrion, do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) e da Universidade de Angers, principal autor do estudo. “Esses compostos são seguros, têm baixo custo e podem ser obtidos em todo o canto do planeta.”

No caso do câncer, a estratégia indicada seria a de ministrar altas doses do composto ao paciente e, dessa forma, inibir a formação dos vasos que alimentam os tumores. A procura por drogas capazes de “matar de fome” os cânceres é uma das linhas de pesquisa mais ativas em oncologia, infelizmente ainda sem resultados realmente animadores. Já no caso do tratamento de isquemias e problemas do coração, o procedimento indicado seria o contrário: receitar baixas doses de polifenóis, que em pequenas quantidades estimulam a vascularização, algo positivo para se minorar esses problemas de saúde.

É claro que muitos outros estudos terão de ser feitos para se comprovar os eventuais efeitos benefícios das altas doses de polifenóis contra o câncer. Antes que alguém comece a beber uma garrafa de vinho por dia na esperança de evitar ou tratar tumores, os cientistas avisam: ingerir essa quantidade da bebida cotidianamente não é saudável. Se grandes doses do composto realmente se mostrarem eficazes contra o câncer, os pesquisadores esperam criar uma pílula rica em polifenóis que poderia ser receitada para qualquer pessoa.

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