O cósmico Pinot Noir de um Nobel
Vencedor do Nobel de Física de 2011, o astrofísico Brian Schmidt faz um bom Pinot Noir na Austrália
Ao ganhar o prêmio Nobel de Física de 2011 por seus estudos que mostram a expansão acelerada do Universo por meio da observação de um tipo explosivo de estrelas (as supenovas), o astrofísico Brian Schmidt, 47 anos, passou a ser conhecido também por uma segunda paixão, esta não escrita nas estrelas: os vinhos da uva Pinot Noir. Nascido nos Estados Unidos, mas com carreira acadêmica feita na Austrália, Schmidt é pesquisador da Universidade Nacional da Austrália, em Weston Creek, nos arredores de Canberra, a capital da grande nação da Oceania, situada no sudeste no país.
No distrito de Canberra, o astrofísico tem um pequeno vinhedo – 1,1 hectare de solo argiloso salpicado de rochas, onde plantou seis diferentes clones de Pinot – e uma vinícola, a Maipenrai. Há pouco mais de uma década, produz vinho quando não está vasculhando os céus em buscas pistas sobre o Universo. A primeira safra, 2003, foi ruim e ele nem comercializou o produto. Mas, com o passar do tempo, Schmidt foi aprendendo a trabalhar a difícil cepa no clima frio da região, localizada numa altitude de 670 metros, perto do vale do rio Yass. Em média, ele produz cerca de 3 mil garrafas ao ano, divididas entre o vinho de entrada da vinícola, o Amungula Creek Pinot Noir, e o top, o Maipenrai Pinot Noir. O segundo só é feito em anos muito bons.
Entre o fim de junho e início de julho, encontrei Schmidt em Lindau, no sul da Alemanha, onde anualmente ocorre um evento que reúne dezenas de cientistas que ganharam o Prêmio Nobel e 600 jovens pesquisadores. Foi a terceira vez que estive com Schmidt, um sujeito simpático, acessível e sem estrelismo. Já fiz duas entrevistas sobre astrofísica com ele, que podem ser conferidas aqui e aqui. Como em 2012, eu estava em Lindau para acompanhar o evento como jornalista de ciência. Fazia parte de um grupo de 15 colegas de diferentes países que ali estavam a convite de Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD). Desta vez, tive sorte pois Schmidt havia levado para a Alemanha um de seus vinhos. Houve um grande jantar promovido pela delegação da Austrália, no qual entre os rótulos da terra dos cangurus constava o Amungula 2012.
Devo dizer que o vinho não fez muito sucesso entre meus colegas, jornalistas de ciência. A visão geral era de que se tratava de um tinto muito leve. Uma colega do Chile lembrou que os vinhos de seus país eram mais encorpados … Bem, a minha impressão foi diferente. Claro que se tratava de um tinto relativamente leve, mas tinha aroma típico de Pinot, com boa fruta, leve tostado e persistência razoável. Antes de ser engarrafado, o vinho permaneceu 21 meses em carvalho francês, um quarto da madeira sendo nova. Para mim, o Amungula é melhor que muito Pinot musculoso do Novo Mundo. Dei ***1/2 para o vinho. Não sei se durará 10 anos, como sugere Schmidt no site de sua vinícola, mas hoje já está delicioso e deve ficar assim por mais uns anos.
O interessante do trabalho do Nobel-vinhateiro, cujos vinhos só podem ser comprados na Austrália, é que ele não é chegado em tecnologismos desnecessários. Prefere práticas artesanais e usa apenas leveduras selvagens na fermentação. No caso do Amungula 2012, foi elaborado um blend do vinho feito com as uvas colhidas em seu próprio vinhedo e mais dois barris de Pinot produzidos numa propriedade vizinha. Schmidt é modesto sobre seus predicados de vinhateiros. Mas o Amungula não deixa ninguém passar vergonha. Quem quiser seguir os passos de Schmidt no Twitter é só procurar por CosmicPinot, nome apropriado para o perfil do astrofísico.
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