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No copo dos estrangeiros

Nos últimos cinco anos, a exportação de vinhos brasileiros praticamente triplicou

Marcos Pivetta/www.jornaldovinho.com.br*

14/09/2007

Stand da Wines from Brazil em feira no exterior (Foto: Divulgação)

Ainda incompreendido e visto com desconfiança por uma parcela dos consumidores brasileiros, o vinho nacional começa a desbravar uma nova fronteira: o mercado global. Nos últimos cinco anos, o valor das exportações de tintos, brancos e espumantes verde-e-amaleros praticamente triplicou. Pulou de US 1,082 milhão em 2002 para US$ 3,150 milhões no ano passado. Os valores ainda são modestos, mas a tendência de crescimento é clara. Nem mesmo o dólar baixo, que encarece o vinho brasileiro para os compradores do exterior, fez despencar o desempenho do setor no primeiro semestre de 2007. As exportações totalizaram cerca de US$ 1,4 milhão, cifra que permite supor que a performance neste ano será similar à de 2006. Mas há quem seja ainda mais otimista. “As exportações de todas as vinícolas nacionais podem chegar a U$ 4 milhões neste ano”, diz Andréia Gentilini Milan, gerente de promoções comerciais do Projeto Setorial Integrado Wines From Brazil (WFB), que atualmente congrega 20 empresas nacionais interessadas em levar seus produtos para outros cantos do planeta. É principalmente a performance dos produtores vinculados ao WFB – 19 originários do Rio Grande do Sul e um de Santa Catarina – que impulsiona e qualifica as vendas no exterior. No ano passado, as empresas da associação responderam por 50% do valor total das exportações de vinho nacional. No primeiro semestre de 2007, o porcentual foi ainda maior, 68%. Nesse período, o preço médio do litro de vinho comercializado lá fora pelos produtores do WFB atingiu US$ 1,46, valor cerca de 50% maior do que recebido pelos associados do grupo em 2002. É interessante notar que a remuneração dos produtos exportados pelas vinícolas do Wines From Brazil também foi aproximadamente 50% maior do que a média nacional do setor obtida nos seis primeiros meses de 2007 (US$ 0,99 por litro de vinho).

Gerenciado pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), com suporte financeiro da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos do governo federal (APEX-Brasil), e auxílio institucional ou econômico de entidades como Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), o Wines from Brazil iniciou suas atividades em 2002. Na época, apenas 6 vinícolas estavam na associação. Naquele primeiro ano de funcionamento do grupo, as exportações das empresas afiliadas somaram apenas US$ 165 mil, então 15% do valor das vendas totais de vinhos brasileiros a outros países. “Há cinco anos, a presença brasileira no exterior praticamente se limitava às vendas da vinícola Aurora e ao comércio de vinhos comuns”, lembra Andréia. “Hoje mais empresas começam a exportar e estamos investindo no vinho fino, que tem maior valor agregado.” Oitenta por centro das empresas vinculadas ao WFB já encontraram compradores para seus rótulos lá fora. Foram efetuadas vendas ao exterior para 20 países. Vista como bloco econômico, a Europa apareceu em 2006 como o maior mercado comprador de vinhos brasileiros produzidos pelos membros da associação, ficando com metade dos 3 milhões de litros exportados. Em termos de países, no entanto, os Estados Unidos figuraram como o maior mercado (21% das compras), seguidos pela Suíça (20%), Japão (14%), Rússia (11%), Chile (10%), Alemanha (8%), República Tcheca (6%), Colômbia (6%), Inglaterra (2%) e Franca (2%).

Para algumas vinícolas, o mercado externo começa a ter importância para as finanças da empresa. Esse é o caso da Miolo, umas empresas fundadoras do Wines From Brazil. Em 2003, primeiro ano em que mirou os consumidores do exterior, as exportações responderam por 1% do seu faturamento. No ano passado, representaram 7% (veja mais informações sobre a Miolo em outra matéria desta edição). Mas não são só as grandes empresas que podem se beneficiar da exportação, que conta com incentivos fiscais, em especial a isenção de alguns impostos que tanto encarem o vinho no mercado nacional. Algumas pequenas e médias vinícolas, que representam 75% dos associados do WFB, também embarcaram nessa canoa. Associada ao grupo WFB há dois anos, a Pizzato – empresa familiar situada no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, que produz cerca de 75 mil litros de vinho por ano – despachou 6 mil garrafas para o exterior: 3 mil de tintos para um importador de Nova York em 2005 e 3 mil de tintos, brancos e espumantes para um comprador da Suíça em 2006. “Ainda neste ano, devemos mandar outro lote de produtos para a Califórnia”, diz Flavio Pizzato, um dos responsáveis pela elaboração dos vinhos da casa, ao lado do irmão Ivo. Segundo ele, os estrangeiros têm curiosidade em provar vinhos brasileiros e isso pode ser uma alavanca para o comércio exterior. “Mas nosso preço em dólar está alto para exportar”, admite Flavio. “Nos Estados Unidos, nossos vinhos chegam para o consumidor final na faixa dos US$ 10 e US$ 25.” Para firmar uma marca nacional lá fora, o membro do clã Pizzato julga ser fundamental participar sempre de eventos no exterior. Com apoio do WFB, ele já esteve em feiras na França e Estados Unidos.

Outra vinícola recém-associada ao WFB que colhe os primeiros frutos da exportação é a Panceri, de Tangará, Santa Catarina, que produz anualmente cerca de 250 mil litros de vinho. Há 3 meses, a empresa debutou no mercado externo: enviou mil garrafas de Chardonnay para a República Tcheca. “Acho que o mercado lá fora está melhor para o vinho nacional do que aqui dentro”, diz Celso Panceri, dono da empresa, que está no Wines From Brazil há um ano. “Os estrangeiros vêem nosso vinho como algo exótico, que representa o Brasil. Eles querem um produto autêntico e não estão tão interessados em discutir o preço. Se quisessem vinhos baratos, compravam da Argentina.” Ao lado de outros produtores nacionais, Panceri embarcará para os Estados Unidos e Canadá em setembro para participar de feiras de vinho. Vai carregar a marca coletiva Wines From Brazil (Vinhos do Brasil), além, é claro, do logotipo de sua própria vinícola. Otimista com o desempenho de seus rótulo lá fora, só faz críticas aos custos elevados para mandar amostras de vinhos ao exterior. “Gastei R$ 900 para enviar 24 garrafas para um evento em Londres”, diz Panceri. A boa acolhida aos vinhos nacionais em novos mercados deve levar mais produtores a aderir ao grupo WFB. “Contamos com a entrada de mais 4 ou 5 produtores na associação em breve”, diz Andréia.

Empresas associadas ao Wines from Brazil

Adega Cavalleri
Boscato Indústria Vinícola
Casa Garcia
Casa Valduga
Champagne Georges Aubert
Aurora
Peterlongo
Fante Indústria de Bebidas
Lovara Vinhos Finos
Miolo Wine Group
Mioranza
Sulvin
Vinhos Don Laurindo
Vinhos Marson
Vinhos Salton
Lídio Carraro
Cordelier
Cordilheira de Sant’ana
Vinícola Panceri
Vinícola Pizzato

*Esta matéria foi originalmente publicada na edição de agosto de 2007 do jornal Bon Vivant

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