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Mais champanharias

Casas especializadas na venda de espumantes ganham espaço nas principais capitais

Marcos Pivetta/www.jornaldovinho.com.br*

01/02/2006

Interior da champanharia Ovelha Negra, em Porto Alegre: pioneira no país (Foto: Beth Santos/Divulgação)
Interior da champanharia Ovelha Negra, em Porto Alegre: pioneira no país (Foto: Beth Santos/Divulgação)

Inspiradas nos bares da Catalunha especializados na venda de espumantes e petiscos, as champanharias começam a ganhar espaço nas principais capitais do Brasil, país com vocação para a produção de bons vinhos borbulhantes. Em Porto Alegre e no Rio Janeiro, já há mais de uma opção de endereço voltado para o consumo, em taça ou em garrafa, de champanhes, cavas (o espumante espanhol) e rótulos das mais variadas procedências, sobretudo os nacionais, que quase sempre são a pedida mais em conta e de maior saída nesses locais. Também se pode encontrar uma ou outra champanharia em Brasília, Belo Horizonte e São Paulo (e provavelmente em outras cidades do Brasil afora). Mesmo lugares de clima frio, como Curitiba, conta com casas de culto aos espumantes, como a Borbulhas, que se encontra no Batel, badalado bairro da capital paranaense. Em geral, a maioria desses estabelecimentos, sem pretensões a serem templos da gastronomia, ostenta algumas dezenas de marcas distintas de espumantes, com preços que podem ir de R$ 5 por uma taça de um rótulo básico da Serra Gaúcha a mais de R$ 1 000 por uma garrafa de um champanhe safrado de grife.

As champanharias, chamadas às vezes de champanherias, investem num clima de informalidade, tentando associar um ar de happy-hour, de bate-papo entre amigos, ao consumo das borbulhas vínicas. Enfim, são mais bares que restaurantes. Algumas casas não abrem mão da sofisticação, como a Xampanheria (assim mesmo com X) na capital fluminense. Outras se caracterizam pela simplicidade, caso da Ovelha Negra em Porto Alegre. Há quem funcione no almoço e ofereça refeições, caso da Champub, da capital gaúcha, ao passo que outras limitam seu cardápio a sanduíches e tira-gostos, caso da Latitude 150, de Brasília. Em comum, todas apostam na descontração como uma tentativa de desglamurizar e dessazonalizar o ato de pedir (ou abrir) um champanhe ou um espumante, um gesto hoje ainda revestido de um excesso de etiqueta e reservado a ocasiões especiais, como casamentos, aniversários e comemorações de fim de ano. Nesses lugares, tomar vinho com bolinhas de gás carbônico é como beber cerveja num bar, algo normal.

É verdade que a fórmula da descontração não é necessariamente um passaporte para a viabilidade comercial de um estabelecimento. “Infelizmente, o brasileiro ainda não vê o champanhe e os espumantes como um produto do dia-a-dia ”, diz Fernando Autran, um dos sócios da Champanharia, um local para eventos situado no bairro dos Jardins, área nobre de São Paulo. Aberto em 2002, a Champanharia chegou a funcionar em seus primeiros meses de vida como um bar voltado para a venda de espumantes, mas, por questões de sobrevivência, teve de mudar de perfil. Hoje virou um local para eventos fechados e festas, com temática inspirada no champanhe. Autran, no entanto, estuda abrir novamente uma casa com o antiga vocação, realmente especializada nos vinhos borbulhantes. “Mas a concorrência em São Paulo não é fácil”, adverte o empresário. Na capital paulista, por ora, há poucos lugares especializados na venda de espumantes, como o exclusivista M&P Champagne Bar, que só serve champanhes franceses e funciona dentro da Daslu, megaloja (e bunker) dos endinheirados de São Paulo. Ou ainda o recém-aberto bar do hotel Emiliano.

Para garantir seu lugar no difícil mercado dos bares, cada champanharia que surge procura firmar um estilo, achar uma linha de trabalho diferenciada, que lhe garanta uma clientela fiel. Há quem seja radical e praticamente não sirva outra bebida alcoólica em seu estabelecimento a não ser espumantes (e umas poucas opções de vinhos). Outras casa são mais liberais e toleram a convivência dos vinhos borbulhantes com a cerveja, a cachaça e até o uísque. Grande parte do público que freqüenta esses estabelecimentos é feminino, ratificando a preferência das mulheres pela bebida “inventada” há mais de 300 anos pelo monge beneditino dom Pérignon. Abaixo segue uma breve descrição de algumas champanharias abertas recentemente em cidades brasileiras:

Ovelha Negra
Sociedade de três amigos do Rio Grande do Sul que não eram do ramo gastronômico, o bar conta com dois endereços: um em Porto Alegre, inaugurado em agosto de 2003, e outro na cidade do Rio de Janeiro, aberto no início de 2005. A inspiração para o nome da champanharia surgiu das dificuldades que os donos tiveram para botar o empreendimento de pé. Depois de conhecer casas similares em Barcelona, o publicitário Marcelo Paes, o administrador de empresas Daniel Giacoboni e o piloto de avião Marco Cordeiro foram contar seus planos de abrir uma champanharia na capital gaúcha para pessoas do mundo dos vinhos e gastronomia. Foram chamados de loucos por muita gente. “Até algumas vinícolas da Serra Gaúcha estranharam a nossa idéia”, conta Paes. “A gente se sentia como uma ovelha negra.” Hoje quase todo mundo que pensa em abrir uma champanharia no Brasil vai dar uma espiada numa das casas do três amigos, em especial na de Porto Alegre, uma referência para o setor.

O clima de bar, descontraído e despretensioso, é uma das marcas registradas de ambos os estabelecimentos da grife Ovelha Negra. “Aqui vem gente tanto de chinelo como de gravata”, conta Paes, que costuma cuidar da matriz gaúcha da sociedade. “Queremos que as pessoas venham à champanharia com o mesmo espírito de quem vai tomar um chope.” A clientela, dois terços dela composta por mulheres, tem a disposição 42 rótulos de espumantes brasileiros, espanhóis, alemães e franceses. Todo dia são oferecidos cinco espumantes diferentes para consumo em taça, com preços que variam de R$ 5 a R$ 20. Os demais são vendidos em garrafas, a valores que oscilam entre R$ 14 por um espumante nacional e R$ 225 por uma champanhe francês. Nas champanharias, montadas em casarões antigos tanto em Porto Alegre como no Rio, não são oferecidas refeições para acompanhar os espumantes, mas sanduíches e petiscos. Uma das marcas registradas da Ovelha Negra é a existência de uma mesa coletiva, o mesão, no qual pessoas que não se conhecem ou estão em grandes turmas podem se sentar lado a lado. Obviamente, também há mesas menores, para casais ou pequenos grupos. Numa boa noite, 100 garrafas de vinhos borbulhantes são vendidas em Porto Alegre e 180 no Rio. Os sócios devem abrir uma filial em São Paulo em 2006.

Champub
Uma opção para quem quer tomar borbulhas e curtir música ao vivo. Em operação desde outubro de 2004, a casa, cujo nome é uma composição dos termos champanhe e pub (um tipo de bar na Inglaterra), oferece cerca de 80 rótulos de espumantes, nacionais e importados, aos seus clientes, a maioria em garrafa e alguns em taça também. Sempre ao som de muito rock, pop, MPB e outros ritmos, executado por bandas e músicos que se apresentam na champanharia. O couvert astístico varia de R$ 6 a R$ 8 e a garrafa mais cara da casa custa R$ 600. “Nosso público é basicamente adulto e feminino, composto por pessoas de 25 a 30 anos, das classes A e B”, explica Gladomir Müller, gerente de alimentos e bebidas do estabelecimento. A casa abre para almoço e não apenas para o happy hour ou as baladas noturnas. Além dos espumantes, a Champub tem algumas sugestões de vinhos e vende uma marca de cerveja.

Ora Bolhas
Belo Horizonte tem fama de ser uma cidade de botecos. Não podia faltar ali também uma casa especializada em champanhes e outras borbulhas. “Queremos desmistificar os espumantes, que deve ser vista como uma bebida para ser tomada a qualquer hora”, afirma Ronaldo de Carvalho Rodrigues, um dos sócios da Ora Bolhas, champanharia aberta em setembro de 2005. “Somos mais um bar que restaurante.” A casa oferece a seus freqüentadores, a maioria com idade entre 25 e 45 anos, cerca de 50 rótulos de espumantes da França, Espanha, Itália, Argentina e Brasil. A venda da bebida em garrafas é predominante, mas há sempre opções de espumantes, com exceção dos champanhes franceses, para serem consumidos em taças. De acordo com seu perfil, o freguês pode gastar tanto R$ 5,90 por um copo de espumante Salton meio-doce como R$ 1 350 por um garrafa de champanhe Cristal. Uma preocupação da Ora Bolhas foi incorporar elementos regionais ao cardápio. “Criamos sanduíches diferenciados que caíram muito bem com os espumantes”, comenta Rodrigues. “Temos um de presunto de Parma com geléia de jabuticaba e outro, bem mineirinho, de lingüiça com jiló caramelizado.” Também existem os drinques da casa, como o Kir Estrada Real, feito de uma redução de jabuticabas, que substitui o licor de cassis, misturada a um bom espumante.

Latitude 150
Desde junho de 2004, a champanharia de Brasília está a todo vapor, para usar uma expressão que casa bem com a temática marítima da casa. A Latitude 150 oferece 32 rótulos de champanhes franceses e espumantes das diversos países, com forte predominância das marcas brasileiras. Os preços variam de pouco mais de R$ 5 por uma taça de um espumante nacional, doce (tipo Asti) ou brut, a cerca de R$ 300 reais por uma garrafa de champanhe Veuve Clicquot. “Nosso público é formado principalmente por mulheres das classes A e B e também por empresários, profissionais liberais, funcionários públicos e de estatais”, comenta Antônio Claudio Rios Azevedo, um dos donos das casa. “Queremos mudar a idéia de que o consumo do espumante é algo elitista ou exclusivo para casamentos e festas de final do ano.” A champanharia não serve refeições, apenas petisco e lanches de nomes engraçados como o Bússola (sanduíche de carpaccio com queijo parmesão, molho de mostarda Dijon e espumante, tudo dentro de um pão ciabatta). De bebida alcoólica, só há espumantes na Latitude 150, que também é palco de eventos do mundo do vinho, como lançamento de produtos, e pequenos shows musicais de artistas.

Xampanheria
Inaugurada há poucos meses, é uma das mais sofisticadas champanharias em funcionamento no país. Situada no bairro carioca de Ipanema, a casa é outro empreendimento de Danio Braga, renomado chef de cozinha e sommelier italiano radicado há tempos no Rio de Janeiro e também dono do hotel e restaurante Locanda della Mimosa, em Petrópolis, na serra fluminense, um dos locais em que melhor se come, bebe e dorme no Brasil. Embora se defina como um bar, e haja petiscos para quem quiser beliscar uma comidinha, a Xampanheria (escrito assim com X, por razões cabalísticas) também é um lugar em que se pode apreciar um bom espumante e fazer uma refeição de alto nível, com direito a pedir até uma sobremesa. A conta, é claro, é proporcional à fama e talento de Braga. Há cerca de 150 rótulos de espumantes, importados e nacionais, na carta do estabelecimento, que se diz “a maior do Brasil’. Alguns produtos são vendidos em taça, mas a maioria é comercializada em garrafa (a mais barata custa pouco mais de R$ 30 e a mais cara, um champanhe rosé Dom Pérignon safra 1998, chega a mais de R$ 2 500). Outros tipos de bebidas, como uísque e cerveja, além de vinhos tranqüilos e coquetéis, fazem parte do cardápio da casa.

Serviço

Ovelha Negra

Porto Alegre
Avenida Duque de Caxias, 690
Centro
Tel: (51) 3061-7021
Abre de segunda a sexta, das 18 às 23h

Rio de Janeiro
Rua Bambina, 120
Botafogo
Tel: (21) 2226-1064
Abre de segunda a sexta, das 17 às 23h

Champub

Porto Alegre
Rua Marquês do Herval, 485, Moinhos de Vento
Tel. (51) 3222-5008
Abre de segunda a sábado, das 11h às 14h (almoço) e das 18h às 02h

Ora Bolhas

Belo Horizonte
Rua Leopoldina 639
Santo Antônio
Tel: (31) 3296-1108
Abre de segunda a sábado, das 17h às 01h

Latitude 150

Brasília
404 Sul – Bloco C – Loja 27
Asa Sul
Tel: (61) 3322-1551
Abre de terça a sábado, das 18h30 às 02h

Xampanheria

Rio de Janeiro
Rua Paul Redfern 37
Ipanema
Tel (21) 2529-6323
Abre de segunda a sábado, das 17h às 01h

*Matéria originalmente publicada na edição de dezembro de 2005 do jornal Bon Vivant

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