Expovinis 2006
Tendências do mundo do vinho no Brasil e os melhores rótulos da feira
Marcos Pivetta/www.jornaldovinho.com.br*
21/06/2006
Ao chegar à sua décima edição, a Expovinis 2006, o maior salão de vinhos da América Latina, foi uma síntese do bom momento vivido pelo setor no Brasil. As cerca de 14 mil pessoas, entre profissionais da área de gastronomia e público em geral, que visitaram a feira, ocorrida em São Paulo nas primeira semana de maio, tiveram a oportunidade de travar contato com as principais tendências do mundo do vinho no país. Como acontece desde 2003, quando o evento passou a ser dos lusos da Exponor, a presença de expositores e produtos da terrinha foi bastante forte. Entre os chamados Top Ten, os dez melhores vinhos da feira escolhidos por um grupo de especialistas, Portugal foi o país que emplacou mais rótulos: três, todos tintos (veja quadro abaixo). Não é à toa que a terra do Porto é a nação européia que mais investe – e cresce – no mercado nacional de vinhos.
Também os tintos e brancos sul-americanos, que o consumidor brasileiro aprendeu a associar a bons produtos com bons preços, estiveram fartamente representados, com lançamentos de novos rótulos e a exposição de velhos e conhecidos nomes em stands de várias importadoras. No caso do Uruguai, alguns produtores tiveram à disposição até um espaço próprio e exclusivo. Falando assim, até parece que quase não houve novidades entre os cerca de 250 expositores do evento. Nada mais enganoso. Caminhando pelos corredores da Expovinis, que, nesta edição, foi turbinada com duas feiras paralelas (a Brasil Cachaça 2006 e a 6º Epicure – Feira Sul-Americana do Tabaco e do Presente Fino), o visitante, copo em mão, deparava, aqui e acolá, com pequenas personalidades internacionais, como o renomado crítico inglês Stephen Brook. E “tropeçava” nas tendências, algumas mais estabelecidas, outras ainda tentando se firmar, que lutam para cavar r seu espaço na adega dos brasileiros. Abaixo um breve resumo de que houve de mais interessante na Expovinis:
Na onda dos rosés
Quem entrasse no vistoso stand da Miolo tinha a chance de provar em primeira mão o Seleção Rosé, o novo membro da linha de vinhos mais popular da vinícola gaúcha, que, em breve, vai fazer companhia aos seus irmãos tinto e branco. Em meio a uma extensa gama de rótulos da irrequieta Miolo, o visitante, que também podia provar o brandy nordestino que a empresa nacional começa a produzir no Vale do São Francisco em associação com a espanhola Osborne, era convocado a responder um breve questionário sobre o rosé. Uma das perguntas dizia respeito ao preço que o consumidor gostaria de pagar pelo vinho, se mais ou menos do que R$ 17 pela garrafa. Ainda entre os nacionais, no movimentado stand da Associação Catarinense dos Produtores de Vinhos Finos de Altitude (Acavitis), um dos destaques da Villa Francioni, nova vinícola de São Joaquim, era o rosé 2005, um corte (mistura) de Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir e Malbec. Fora isso, vários stands tinham vinhos rosés, das mais variadas procedências, do Novo e do Velho Mundo. Talvez o indício de que há um renovado interesse por esse tipo de vinho, tão depreciado no passado recente, foi a presença de um stand dos Vins de Provence, onde 15 produtores do sul da França mostraram seus tintos, brancos e sobretudo os rosés. “O clima do Brasil é ótimo para o consumo de rosés’’, assegurava, aos visitantes do espaço provençal na feira, Raphaël Allemand, que organizou a vinda dos produtores gauleses ao Brasil, todos em busca de um importador. Outra prova de que os vinhos dessa cor ganham terreno: na eleição dos melhores rótulos da Expovinis, os organizadores da feira abriram espaço para a categoria rosé – e o eleito foi um rótulo chileno, o Santa Digna Cabernet Sauvignon 2005.
Brook, a personalidade da feira
Se o norte-americano Robert Parker é o imperador do vinho tanto no Novo como no Velho Mundo, os súditos da rainha Elizabeth parecem ser os reis da Expovinis. No ano passado, o destaque da feira fora Steven Spurrier, renomado crítico da revista inglesa Decanter, que saiu daqui entusiasmado com o mercado de vinhos no Brasil e elogiou alguns rótulos nacionais, em especial os da Lidio Carraro. Em 2006, o principal convidado internacional foi, de novo, um britânico, também da Decanter: o jornalista Stephen Brook, que comandou ou participou de degustações fechadas de Portos Vintage (safrados), grandes Borgonhas, vinhos top do Cone Sul e tintos brasileiros da ótima safra de 2004. Provavelmente por polidez, Brook, ao avaliar os rótulos que lhe eram servidos, às vezes dizia que sua opinião poderia estar errada, mas não se furtava a dar seu veredicto. Sem pedantismo ou malabarismos verbais. Do D.O.N 2002, um corte de alta estirpe da vinícola chilena Santa Helena, feito com muita Cabernet Sauvignon, um pouco de Merlot e um gole de Carmenère, disse: “Não compraria este vinho. Ele parece ser feito com uvas maduras demais. É um exemplo clássico de vinificação internacional. Esse vinho poderia ter sido feito na África do Sul ou Austrália.” Não que o vinho fosse ruim, mas, para o inglês, faltava-lhe personalidade. Predicado que encontrou em outro tinto, ainda nessa mesma degustação: o Cheval des Andes 2002, um corte de 56% de Cabernet Sauvignon, 40% de Malbec e 4% de Petit Verdot, que é fruto de uma parceria do Château Cheval Blanc, de Bordeaux, e da argentina Terrazas (Chandon). “Um vinho fascinante. Achei que a combinação não funcionaria, mas funcionou. Daqui a três ou quatro anos, o vinho estará excelente”, sentenciou Brook.
Novas regiões brasileiras
Grandes vinícolas nacionais, como a Salton, a Miolo e a Aurora, tiveram vistosos stands na Expovinis. Também era possível encontrar, em stands menores, os rótulos de pequenos produtores que rapidamente se tornaram referência para o setor, como a Lidio Carraro e a Pizzato. Essas duas vinícolas, aliás, mostraram, além de seus produtos mais conhecidos, lançamentos na feira: a Lidio Carraro apresentou dois rótulos provenientes de Encruzilhada do Sul (Serra do Sudeste), o Singular Tempranillo 2005 e o Elos Cabernet Sauvignon/Malbec 2005, e a Pizzato trouxe o Merlot 2004 e o Cabernet Sauvignon 2004 que compõem a linha Fausto de Pizzato, feita com uvas de Dois Lajeados, na Serra Gaúcha. Mas talvez a grande novidade entre os representantes das vinícolas brasileiras foi o stand da Acavitis, que reuniu uma pequena amostra dos 85 produtores catarinenses que fazem parte da associação. Além dos rótulos da Villa Francioni, empreendimento do grupo cerâmico Cecrisa, o público teve a oportunidade de conhecer, por exemplo, os vinhos da Quinta da Neve, nova vinícola de São Joaquim. Com sorte, o visitante podia encontrar no stand da Acavitis um conhecida figura do mundo do vinho, Adolar Hermann, dono da importadora Decanter, sediada em Blumenau, e um dos sócios da Quinta da Neve. Santa Catarina pode dar bons? “As vinícolas do estado precisam se unir para mostrar que sim”, respondia à essa pergunta Celso Panceri, da Panceri Vinhos Finos, de Tangará, interior de Santa Catarina, outra empresa cujos produtos foram mostrados no espaço da Acavitis. Em outro canto da feira, num stand próprio, também aparecia mais uma vinícola nacional situada numa nova área de viticultura, a Dezem, de Toledo, no norte do Paraná.
Emergentes italianos e os Malbecs da França
Lembra daquele bom vinho italiano, com as uvas características da Bota, que agrada a todos e tem um preço razoável? Ainda é cedo para dizer, mas parece que, aos poucos, ele está voltando. Só que com uma roupagem nova, num estilo mais moderno, intermediário entre o Velho e o Novo Mundo, e proveniente de regiões menos afamadas que a Toscana e o Piemonte. No stand da importadora Decanter, era possível, por exemplo, provar os vinhos da vinícola Nicodemi, da região de Abruzzo. A R$ 55,o Montepulciano D’Abruzzo 2003 da Nicodemi não é nenhuma pechincha, mas é uma boa amostra dos aromas e sabores dessa nova Itália, ainda pouco conhecida por aqui. Também pouco difundidos no Brasil
Os Top Ten são onze
Pela primeira vez em sua história, a Expovinis escolheu os melhores vinhos da feira. Formada por jornalistas (Brook entre eles), membros de entidades de consumidores e sommeliers, uma equipe de especialistas provou os vinhos do evento e indicou seus rótulos preferidos para participar de uma degustação final, às cegas. Mais de 50 produtos foram selecionados pelos experts dentro de determinadas categorias e confrontados com os demais finalistas de estilo semelhante. Houve um empate. Por isso, os Top Ten acabaram sendo onze. Abaixo os vinhos premiados em cada uma das categorias:
CATEGORIA
Vinho – Produtor – Região/País – Importador
ROSÉ
Santa Digna Cabernet Sauvignon 2005 – Miguel Torres – Chile – Reloco
BRANCOS FEITOS COM SAUVIGNON BLANC
Hunter’s 2004 – Hunter’s – Nova Zelândia – Premium
BRANCOS FEITOS COM CHARDONNAY
Gimblett Road Chardonnay 99 – Tinity Hill – Nova Zelândia – Premium
BRANCOS DEMAIS CASTAS
Lodge Hill Riesling 2003 – Jim Barry – Austrália – KMM
ESPUMANTES
Cava Codorníu Cuvée Raventós – Codorníu – Espanha – Interfood
Cava Juvé y Camps Reserva de la Familia Brut Nature 2002 – Juvé y Camps – Espanha – Península
CHAMPAGNE
Jean Paul Gaultier Special Cuvée – Piper-Heidsieck – França – Interfood
TINTOS LEVES
Quinta do Sanguinhal 2000 – Companhia Agrícola de Óbidos – Portugal – Adega Alentejana
TINTOS AO ESTILO BORDEAUX (OU FEITOS COM SYRAH)
Old Block Shiraz 2001 – St Hallett – Austrália – KMM
Leo d’Honor 2001 – Cooperativa Agrícola Santo Isidro de Pegões – Palmela/Portugal – Lusitana
TINTO DE ESPANHA/PORTUGAL/ ITÁLIA
Vinha da Ponte 2003 – Quinta do Crasto – Douro/Portugal – Qualimpor
*Esta matéria foi originalmente publicada no edição de maio de 2006 do jornal Bon Vivant
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