Bye, bye California?
Até o final do século, aquecimento global poderá reduzir em até 81% o tamanho da área nobre para produção de vinhos nos EUA
Marcos Pivetta/www.jornaldovinho.com.br
11/07/2006
O tempo vai literalmente esquentar para a indústria norte-americana do vinho, a quarta maior do mundo, que colhe anualmente cerca de 3,5 milhões de toneladas de uvas para fabricação de tintos e brancos. Estudo publicado nesta segunda-feira (10/7) na revista científica norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) estima que, se o aquecimento global não for freado nas próximas décadas, menos de um quinto das áreas dos Estados Unidos hoje consideradas ideais para a produção de vinhos de alta qualidade — os tais premium wines, para usar uma expressão cara aos marketeiros — vão se tornar quentes demais (terão muitos dias com temperaturas acima dos 35 C°) e impróprias para a fabricação de rótulos de primeiríssima linha até o final do século 21.
Essas zonas até podem continuar produzindo vinhos, mas de qualidade inferior, de acordo com o estudo, feito por pesquisadores da Universidade Purdue. Com o auxílio de um modelo climático computacional, os cientistas realizaram simulações para prever os eventuais impactos sobre a viticultura nacional causados por uma elevação na temperatura média do planeta entre 2 e 6 C° nas próximas décadas. Segundo as projeções, a Califórnia, que atualmente responde por 90% da produção norte-americana de vinhos, será o estado mais afetado pelo aumento do aquecimento global. Regiões nobres, como os vales de Napa e Sonoma, simplesmente podem sumir do mapa da produção de vinhos finos de alta gama.
Além de diminuir de tamanho, as áreas mais indicadas para a viticultura mudarão de latitude dentro dos Estados Unidos se o clima não parar de esquentar. A produção californiana encolherá em termos de quantidade e qualidade – apenas trechos estreitos da costa oeste do estado ainda serão boas para vinhos de maior nível – e o cultivo da uva se restringirá basicamente a alguns estados do noroeste (Oregon e Washington) e nordeste (New England) do país, talvez úmidos demais para a confecções de vinhos tops.
Nem sempre os cientistas acertam em suas previsões e, até o final do século, muitos fatores naturais (ou não) vão com certeza alterar, para o bem e para o mal, a produção de vinhos no mundo. Mas convém ficar de olho no aquecimento global. Se as estimativas dos pesquisadoers se materializarem, a Zinfandel, a uva símbolo da Califórnia, pode ter de procurar uma nova morada ainda neste século. Caso contrário, vai torrar no pé.
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