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A vez da aromática Mencía

Enólogo espanhol Alvaro Palacios fala dos tintos leves e frescos da região de Bierzo, feitos com essa pouco conhecida casta ibérica

Marcos Pivetta/www.jornaldovinho.com.br*

05/07/2008

Palacios: resgate de regiões espanholas, como Bierzo (Foto: Divulgação)

Falar de vinho espanhol é quase sempre falar de tintos elaborados basicamente com a uva Tempranillo, muitos deles envelhecidos por anos em barricas de carvalho americano e provenientes da mais famosa região desse país ibérico, a Rioja. Ainda que verdadeira, essa imagem não traduz mais totalmente a nova realidade do país ibérico. Hoje, sem deixar de se apoiar em grande medida na dupla Tempranillo/Rioja, a Espanha tem muito mais a oferecer ao consumidor. Novas regiões surgiram e antigas áreas de produção, que andavam meio esquecidas, foram revitalizadas, colocando em destaque cepas pouco conhecidas do grande público, como a aromática e delicada Mencía, típica da zona de Bierzo, noroeste da Espanha. Um dos maiores responsáveis pelo recente renascimento de Bierzo é o enólogo Alvaro Palacios, que, ao lado de outros produtores, como René Barbier, já havia transformado a região do Priorato, na Catalunha, numa fonte de grandes tintos, baseados nas cepas locais, como a Garnacha, e em uvas internacionais, como a Cabernet Sauvignon.

Palacios, de 44 anos, esteve em São Paulo no início de maio a convite da importadora Mistral, que representa seus vinhos no Brasil. Mostrou oito tintos de sua lavra, provenientes de três regiões espanholas, Rioja (onde assumiu o comanda da bodega familiar há pouco tempo), Priorato e Bierzo. Um exemplar da safra 1999 de seu rótulo mais badalado feito no Priorato, o L’Ermita, também fez parte da prova. A qualidade média dos vinhos – elaborados num estilo moderno, mas em geral sem excessos, com boa fruta e acidez – é bem alta. Não se pode dizer que os três vinhos de Bierzo degustados – o básico Pétalos de Bierzo 2006 (US$ 45), o mediano Corullón 2003 (US$ 117,50) e o top de linha San Martin 2001 (US$ 159,25) – sejam melhores do que os outros. Mas, com certeza, têm uma personalidade distinta dos demais. São mais leves, frescos e aromáticos. Por um instante, parecem exibir aromas de vinho branco, com um toque cítrico, de laranja. A peculiaridade desses vinhos se deve provavelmente à presença da Mencía, casta com que são elaborados. Palacios, no entanto, diz que não busca enfatizar o caráter das uvas em seus vinhos, mas sim as particularidades das áreas em eles são feitos. “Busco primeiro resgatar a região”, disse o enólogo. Para ele, os vinhos de Bierzo têm uma “frágil beleza” enquanto os do Priorato emanam potência.

As terras altas de Bierzo em que Palacios produz seus tintos à base de Mencía ficam no famoso caminho do Santiago de Compostela, na região de León. São terrenos íngremes, ricos em xisto, dotados de vinhedos velhos, alguns com mais de 100 anos e que estavam esquecidos até serem resgatados pelo enólogo. Por suas características, a Mencía costuma ser associada à Cabernet Franc, variedade francesa com a qual muitas pessoas chegaram a especular que tinha algum parentesco. Mas análises recentes do DNA da cepa mostraram que a Mencía, na verdade, é igual à Jaen, cultivada em Portugal. Como quase todos os vinhos de Palácios, um enólogo badalado internacionalmente, os rótulos de Bierzo só têm um problema para o consumidor: não são exatamente uma pechincha. Se bem que, num mercado com preços inflados como o brasileiro, não chega a ser loucura levar para casa uma garrafa do Pétalos de Bierzo por cerca de R$ 75.

Na prova de seus vinhos com a imprensa, o simpático Palacios não pareceu exibir uma clara preferência pessoal por nenhum de seus vinhos provados: simplesmente esvaziou por completo todas as taças. Foi democrático. Tomou tudo, sem pestanejar.

*Esta matéria foi originalmente publicada na edição de junho de 2008 do jornal Bon Vivant

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