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A nova geografia do consumo

Em 2010, o Brasil será o 2° maior mercado de vinhos da América Latina e os Estados Unidos, o 1° do mundo

Marcos Pivetta/www.jornaldovinho.com.br*

07/08/2007

A mensagem é clara: enquanto o consumo de vinho cai ou se mantém estacionado no Velho Mundo, tintos e brancos se tornam cada vez mais populares entre os habitantes dos chamados países emergentes. No grupo das novas nações devotas de Baco, o destaque recai sobre os membros do Bric, formado por Brasil (que em breve será o segundo maior consumidor de vinhos da América Latina), Rússia, Índia e, claro, a gigantesca China, o mercado mais promissor para tintos e brancos nos próximos anos. Isso sem falar dos Estados Unidos, que em 2010, deverá se tornar o maior bebedor de vinhos do planeta, desbancando a França de sua liderança no setor. Essas tendências do mercado mundial foram divulgadas às vésperas da última Vinexpo, a grande feira de vinhos de Bordeaux, que ocorreu entre 17 e 21 de junho. A pedido dos organizadores do evento, a empresa britânica de consultoria International Wine and Spirit Record (IWRS) fez um amplo estudo e flagrou as mudanças de hábitos etílicos em curso no globo.

De acordo com o trabalho, o consumo global de vinhos crescerá 4,8% em volume entre 2005 e 2010, atingindo a marca anual de cerca de 239 milhões de hectolitros (quase 32 bilhões de garrafas). Nesse período, a procura por espumantes aumentará 10%, mais do que o dobro da elevação prevista para o segmento de vinhos tranqüilos (não espumantes). É interessante notar que a elevação de consumo no segmento dos vinhos tranqüilos será bastante diferente em função da cor da bebida. O consumo global de tintos, que representam mais da metade dos vinhos sem borbulhas, crescerá 7,1% e o dos rosados se elevará em 6,6%. Já os brancos praticamente marcarão passo e seu consumo crescerá apenas 0,5%. Em termos de faturamento, as vendas de vinhos deverão registrar, sempre segundo o trabalho do IWRS, um crescimento de 9,4% entre 2005 e 2010, quando o mercado movimentará 117 bilhões de dólares anuais, cifra equivalente à da indústria de cosméticos. Os chamados vinhos premium, que custam mais de US$ 10 no varejo e representam menos de 10% do mercado, terão um desempenho expressivo: seu consumo aumentará 17,2% nesse período. Já o aumento de procura por rótulos com preço situado entre e US$ 5 e US$ 10 será de 9,1%. No segmento dos produtos mais baratos (menos de US$ 5), que são o maior filão do mercado, a demanda se elevará em apenas 2,4%. Apesar do dinamismo dos novos mercados consumidores que ganham corpo no mundo, a produção de vinhos ainda será cerca de 9% maior do que a demanda em 2010. É uma situação preocupante, mas que já foi pior.

Nos próximos anos, o Brasil continuará ganhando importância no mundo do vinho. Segundo as projeções do estudo, o país, em 2010, estará consumindo 3,69 milhões de hectolitros da bebida por ano, 12,3% a mais do que consumiu em 2005. Essa cifra tornará o Brasil o segundo maior mercado da América Latina, atrás apenas da Argentina, onde o consumo de vinhos cairá 3% em termos de volume nesse mesmo período. Um segmento do setor terá um desempenho espetacular em terras verde-e-amarelas: o consumo de tintos aumentará mais de 28% até 2010, e o Brasil será o nono maior mercado do mundo para vinhos dessa cor. Será um crescimento praticamente no mesmo ritmo da China, Alemanha e Estados Unidos, onde a procura por esse tipo produto ultrapassará os 30% nos próximos anos. Um exemplo do maior interesse dos brasileiros por vinhos em geral foi o número elevado de representantes do país enviados neste ano à Vinexpo. Segundo o site francês www.viti-net.fr, 114 compradores de vinhos vindos do Brasil passaram pela feira de Bordeaux, cujo público total foi de mais de 50 mil pessoas, um terço dos quais vindos do exterior. Se os brasileiros começam a ser notados nesse tipo de evento, o que dizer então dos compradores de vinhos da China e da Rússia, que despacharam, respectivamente, 2100 e 500 profissionais ao evento bordalês? “Esta edição da Vinexpo confirmou a força do setor no mercado internacional”, resumiu Jean-Marie Chadronnier, presidente da feira.

É justamente dessas duas nações emergentes que vem outra novidade de peso apontada pelo trabalho do IWRS: por volta de 2010, Rússia e China entrarão no rol dos dez países que mais consomem vinho. Em 2010, a Rússia se tornará o nono maior mercado para o setor (com consumo anual de 6,4 milhões de hectolitros de vinhos tranqüilos, tendo registrado um crescimento de demanda de quase 30%. A China será o décimo mercado global do produto (5,5 milhões de hectolitros anuais e uma elevação de consumo de 36%). Aliás, o ranking dos maiores consumidores de vinho terá outras mudanças significativas até o final desta década. Os Estados Unidos, que são o quarto maior produtor mundial e o sexto exportador da bebida, se tornarão o maior consumidor de fermentados de uva. Em 2010, a demanda anual por vinhos tranqüilos será de 27,3 milhões de hectolitros entre os norte-americanos. A Itália, que aparentemente conseguiu estancar a perda de consumidores da bebida, virá logo atrás (consumo anual de 27,2 milhões de hectolitros). Já a França terá de se contentar com o terceiro posto (24,9 milhões de hectolitros), tendo a Alemanha na sua cola. É a nova geografia do consumo.

Nota da redação: O estudo do IWSR parece trabalhar com dados ligeiramente defasados de consumo no Brasil. Em 2005, foram comercializados no país cerca de 360 milhões de litros (3,60 milhões de hectolitros) de vinhos finos, de mesa e espumantes, somando-se os nacionais e os importados, conforme dados estimados pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). Portanto, se a projeção de crescimento de 12,3% para o mercado brasileiro que foi divulgada pelo estudo realmente se concretizar, o Brasil estará consumindo mais de 400 milhões de litros (4 milhões de hectolitros) de vinhos e espumantes em 2010 – e não 369 milhões de litros, como prevê o trabalho.

*Esta matéria apresenta ligeiras modificações em relação à que foi originalmente publicada na edição de julho de 2007 do jornal Bon Vivant

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